Realidade da saúde mental dos trabalhadores de comunicação preocupa
Um ano e meio depois do início da pandemia do Corona vírus – que ainda não acabou, sem parar, aliás, trabalhando cada vez mais, diversos trabalhadores da área de comunicação estão apresentando sintomas de adoecimento da mente. Alguns já foram, inclusive, afastados do trabalho por causa da Síndrome de Burnout, uma espécie de estresse crônico trazido pelo trabalho. A saúde mental da categoria preocupa e, a fim de nortear os trabalhadores da comunicação, o SINTERP-BA fez uma entrevista sobre o assunto com um especialista, o diretor-médico do Espaço Bom Viver, Dr. Jader Ferraz.
SINTERP-BA – Como o senhor avalia a interferência do trabalho na saúde mental das pessoas que exercem profissões consideradas essenciais e não puderam parar nos períodos mais críticos da pandemia?
Entrevistado – O trabalho, do ponto de vista psicológico, quando desempenhado dentro de normas e legitimidades, é, em si, saudável e auxiliador no norte da planificação de vida. Dentro do cenário da pandemia, algumas categorias laborais necessitaram manter-se em contínua prestação de serviço para a sociedade; o que, por vezes, levaram alguns indivíduos ao esgotamento físico e mental. O desgaste emocional imposto a todos, pela especificidade do momento, foi e é absorvido de forma individualizada, única.
SINTERP-BA – Quais as consequências disso a curto, médio e longo prazos?
Entrevistado – As consequências a curto prazo para aqueles indivíduos que são expostos são exaustão física e mental, desgaste emocional, desânimo, falta de energia. A médio prazo, pode ocorrer, para muitos, desempenho laboral reduzido, perda progressiva da capacidade de realização de múltiplas tarefas, dificuldade de concentração e prejuízo ao ato de planificar seus afazeres. A longo prazo, a progressão do estado mental acarreta desestímulo contínuo em realizar o labor, prejuízo emocional, frustração, culpabilidade, risco de absenteísmo, negativismo relativo ao ato de realizar o labor.
SINTERP-BA – Quando procurar ajuda? E em que nível? Quando preciso mais do que o psicólogo, também da ajuda do médico e de interferências medicamentosas?
Entrevistado – O momento de procurar ajuda é fundamental para positivo desfecho de melhora: assim que oportunamente se perceba qualquer sintomatologia relativa à piora funcional. Em um primeiro estado mental, o indivíduo tende a cursar com prejuízo cognitivo, dificuldade de concentração, exaustão, cansaço físico e emocional, desânimo. um primeiro passo plausível é buscar o diálogo dentro do seu labor, com a tentativa de minimizar o desgaste emocional imposto pela realização do afazer. Mudança da prestação de serviço, quando possível, rodízio ou alteração de horários, podem ser saídas lúcidas. A partir desse norte, a mudança de estilo de vida se soma de forma propositiva, associada à prática de atividades físicas. Os auxílios médico (com prescrição de medicamentos após avaliação de necessidade) e psicológico (com indicação de auxílio psicoterápico individualizado) são primordiais a partir do momento em que o próprio indivíduo não consegue dar solução ao que sente. A união de forças com a terapia psicológica é de fundamental importância para reestruturação dos seus pensamentos, melhora dos sintomas cognitivos e maior compreensão do que se sente. Cada vez mais a psiquiatria tem se unido de forma lúcida com outras esferas terapêuticas de enorme importância na busca da plena melhora.
SINTERP-BA – Para quem não parou, ou quem ainda por cima precisou acelerar o trabalho, quais são os paliativos para manter a saúde mental?
Entrevistado – Algumas ações auxiliam todos a manterem a saúde mental dentro de uma plenitude positiva: ter um momento para si mesmo e para quem se ama. Além disso, realizar ações que diminuam o nível de estresse, como atividades físicas regulares, momentos de lazer, reestruturação do modo de vida. Associado a essas mudanças, quando necessário e no momento inicial perceptível, buscar ajuda profissional para que juntos construa remissão dos sintomas.
SINTERP-BA – Por favor, explique o que significa a Síndrome de Burnout e como ela age.
Entrevistado – A Síndrome de Burnout é compreendida como reação negativa ao estresse crônico no trabalho. De forma insidiosa e progressiva, leva ao esgotamento físico e mental, reduzindo capacidade cognitiva, realização de tarefas múltiplas. Além disso, falta de energia, sobrecarga, fadiga, sentimentos de incapacidade laboral, ineficiência, apatia, frustração e culpabilidade. Construir gerenciamento dos pensamentos, compreensão do desgaste emocional, com modificação de rota psicológica, com auxílio profissional, somado à mudança do estilo de vida são passos importantes para remissão dos sintomas e reestruturação de vida, dentro de plenitudes emocional e psicológica positivas.